Festival tem energia de sobra nos dois dias de Rock à Moda do Porto
Primeiro dia em grande com o cantor Pedro Abrunhosa como cabeça de cartaz e último dia começou em ânimo máximo e encerra com Mão Morta.
Na impossibilidade de contar, uma a uma, todas as cabeças que se apresentam diante de um palco para ver e ouvir um concerto, há uma panóplia de outras formas de “medir” a densidade de espetadores num recinto. Se o fizermos pela temperatura de uma sala, que vai aquecendo à medida que mais e mais gente compõe o cenário, há algo evidente a afirmar sobre o primeiro dia de Rock à Moda do Porto: só se pôde despir os casacos já a noite passava de meio.
Igor Martins / Global Imagens
Como vem sendo tradição do cantor portuense, a atualidade do Mundo não poderia ser deixada de fora. Pedro Abrunhosa começou, continuou e terminou com referência à guerra e à paz. Por mais de três vezes, o recente reacendimento do conflito israelo-palestiniano foi falado e mostrado em palco, com fotografias a serem projetadas ao fundo do palco. Abrunhosa fez questão de arrancar o espetáculo desta sexta-feira com destaque para a palavra “Paz”, no entanto, foi mais tarde na noite que defendeu a sua posição política, ao pedir a Israel que responda “na mesma força com que foi atacado”, uma vez que “a causa da Palestina é demasiado nobre para ser representada pelo Hamas”.
O concerto, o único desta primeira noite de Rock à Moda do Porto onde se identificaram caras mais jovens entre o público, desenrolou-se como vem sendo costume. Não faltaram os clássicos e até as interpretações, como a de “Hallelujah”, que, juntamente com o original “Talvez Foder”, foi dedicada à guerra. E numa noite em que o sotaque do norte era rei e protagonista, Abrunhosa trouxe a palco “Rei do Bairro Alto”. E o público, ainda que esta verse sobre um conhecido local da capital, esteve à altura, vociferando a letra do início ao fim.
Apesar da acumulação de público para o último concerto – e até das dezenas que se iam espalhando e conversando pelos corredores exteriores, mesmo no decorrer dos concertos anteriores –, nem todos apareceram apenas para Pedro Abrunhosa.
Por momentos, não olhemos para os telemóveis de última geração que se vão levantando entre a multidão. Fora as tecnologias, e parte das roupas, uma vez que o revivalismo está cada vez mais presente na moda, poderíamos achar, no arranque da segunda noite de Rock à Moda do Porto, que uma máquina do tempo coletiva nos tinha transportado de volta para os anos 1980.Os cinco elementos que compõem atualmente a banda portuense foram recebidos em palmas, gritos e com corpos freneticamente movimentados, prontos a dançar à primeira nota musical. A essa mesma energia correspondeu João Grande, vocalista e cabeça do grupo, saltando e correndo do início ao fim da atuação. Também por esta presença energética se poderia pensar no possível teletransporte no tempo, dado não se reconhecer qualquer desvanecer de força da banda com o passar dos anos.
Igor Martins / Global Imagens
E até numa nova canção – a mais recente lançada pelos Taxi – os espectadores, fiéis àquele momento, se dedicaram a aprender a letra. “Nunca mais”, ainda desconhecido para a esmagadora maioria dos presentes no Rock à Moda do Porto foi, no final, cantado na perfeição. E nem precisou de acompanhamento instrumental ou do vocalista. O feito foi um sucesso para a banda, que tinha, nesse exato momento, preparado o lançamento de confettis. Fosse o público da noite desta sexta-feira e a celebração teria caído em saco roto.
Este sábado seguem-se ainda as atuações dos bracarenses Mão Morta e dos Clã, repetentes no evento e que apresentam, este ano, uma convidada especial, Capicua.
Não havia ainda sinais de movimento em palco, apenas uma voz nos altifalantes anunciava “E agora, no palco, Taxi”, e já a multidão entregava todo o entusiasmo, contrastando com a energia empalidecida que se fez sentir pouco mais de 24 horas antes. Tal qual acontece com o anunciar de uma qualquer banda de sucesso do momento.